Anozero‘21–22 – Meia-Noite
2022
até 
26
June 2022
Vários espaços
Anozero‘21–22 – Meia-Noite
9
April 2022
a
26
June 2022
Vários espaços

A Biblioteca Joanina — uma pérola do barroco e um tesouro da Universidade de Coimbra — foi edificada como um gesto imperialista que ambicionava encapsular o conhecimento e ostentar o domínio colonial. Esta fortaleza do saber (e do poder) é também o refúgio de uma pequena colónia de morcegos, que encontraram nas suas condições ambientais o lugar ideal para a sua casa. Os insetos e as lagartas presentes nos 55 mil livros da biblioteca alimentam os morcegos, e o silêncio noturno oferece-lhes uma liberdade quase ilimitada. A noite é o momento em que saem do seu esconderijo e começam a trabalhar na conservação daquele espólio. A existência dos morcegos na Biblioteca Joanina serve de centelha ativadora dos nossos pensamentos, e, assim esperamos, dos vossos, que visitam agora a Bienal.

Na conceção crítica da Meia-noite, a noite é considerada como espaço de fluidez, de quebra de normas, lugar aberto a outras possibilidades de visão, de conhecimento, de interação, aberto a outros corpos. É encarada como espaço de resistência e liberdade, lugar político, metafísico e vivencial. Como território onde ocorrem as relações simbióticas de codependência e coevolução entre humanos e outros seres, a noite fascina-nos. Interessa-nos este pluralismo que «transvalora» as categorias normativas universais.

A universidade é, por excelência, um lugar de produção de conhecimento e de estabelecimento do poder. Se as bibliotecas são o epítome de (um determinado tipo protegido de) conhecimento e os morcegos da escuridão, aqui encontramo-los numa relação de mútua dependência. Assim, tanto a biblioteca como o morcego se transformam em sujeitos políticos. Uma ideia central da nossa pesquisa para a Meia-noite foi como questionar a produção de conhecimento corporizada pela Biblioteca Joanina. Como propor epistemologias alternativas? Como aprender com a inteligência dos morcegos? E como imaginar outras formas de interação?

Pretendemos libertar-nos das narrativas e do dualismo normativo do pensamento moderno que fraturam a sociedade contemporânea e geram uma imbricação de discriminações — como o racismo, o classismo, o sexismo, o idadismo, o capacitismo, para referir apenas algumas —, através da utilização de metodologias que nos ajudam a experimentar formas criativas, inesperadas e marginais de produção de conhecimento. Colocámos os óculos de morcego de Coimbra por cima dos nossos óculos feministas e convidámos um grupo de artistas a partilhar as suas ferramentas artísticas e críticas. Ferramentas que multiplicam e ligam mundos e que se situam depois do patriarcado — no futuro, portanto.

Inspirada na noite, esta proposta para a Bienal é uma tentativa de abrir um interstício especulativo, que não propõe qualquer resposta, mas gera muitas questões. Uma tentativa de inventar outros modos de existência, de relação, de ser e de vivermos juntos.

Elfi Turpin & Filipa Oliveira
Curadoras Anozero’21–22

A Biblioteca Joanina — uma pérola do barroco e um tesouro da Universidade de Coimbra — foi edificada como um gesto imperialista que ambicionava encapsular o conhecimento e ostentar o domínio colonial. Esta fortaleza do saber (e do poder) é também o refúgio de uma pequena colónia de morcegos, que encontraram nas suas condições ambientais o lugar ideal para a sua casa. Os insetos e as lagartas presentes nos 55 mil livros da biblioteca alimentam os morcegos, e o silêncio noturno oferece-lhes uma liberdade quase ilimitada. A noite é o momento em que saem do seu esconderijo e começam a trabalhar na conservação daquele espólio. A existência dos morcegos na Biblioteca Joanina serve de centelha ativadora dos nossos pensamentos, e, assim esperamos, dos vossos, que visitam agora a Bienal.

Na conceção crítica da Meia-noite, a noite é considerada como espaço de fluidez, de quebra de normas, lugar aberto a outras possibilidades de visão, de conhecimento, de interação, aberto a outros corpos. É encarada como espaço de resistência e liberdade, lugar político, metafísico e vivencial. Como território onde ocorrem as relações simbióticas de codependência e coevolução entre humanos e outros seres, a noite fascina-nos. Interessa-nos este pluralismo que «transvalora» as categorias normativas universais.

A universidade é, por excelência, um lugar de produção de conhecimento e de estabelecimento do poder. Se as bibliotecas são o epítome de (um determinado tipo protegido de) conhecimento e os morcegos da escuridão, aqui encontramo-los numa relação de mútua dependência. Assim, tanto a biblioteca como o morcego se transformam em sujeitos políticos. Uma ideia central da nossa pesquisa para a Meia-noite foi como questionar a produção de conhecimento corporizada pela Biblioteca Joanina. Como propor epistemologias alternativas? Como aprender com a inteligência dos morcegos? E como imaginar outras formas de interação?

Pretendemos libertar-nos das narrativas e do dualismo normativo do pensamento moderno que fraturam a sociedade contemporânea e geram uma imbricação de discriminações — como o racismo, o classismo, o sexismo, o idadismo, o capacitismo, para referir apenas algumas —, através da utilização de metodologias que nos ajudam a experimentar formas criativas, inesperadas e marginais de produção de conhecimento. Colocámos os óculos de morcego de Coimbra por cima dos nossos óculos feministas e convidámos um grupo de artistas a partilhar as suas ferramentas artísticas e críticas. Ferramentas que multiplicam e ligam mundos e que se situam depois do patriarcado — no futuro, portanto.

Inspirada na noite, esta proposta para a Bienal é uma tentativa de abrir um interstício especulativo, que não propõe qualquer resposta, mas gera muitas questões. Uma tentativa de inventar outros modos de existência, de relação, de ser e de vivermos juntos.

Elfi Turpin & Filipa Oliveira
Curadoras Anozero’21–22

Artistas

Ana Pi

The Divine Cypher
2021
Performance.
Teatro da Cerca de São Bernardo
© Daniel Nicoalevsky

Aurélia de Souza

Estudo para o autorretrato Santo António
s.d.
Impressão sobre papel. Cortesia de José Caiado de Sousa.
Mosteiro de Santa Clara-a-Nova
© Jorge das Neves

Beatriz Santiago Muñoz

La Cabeza Mató a Todos
2014
Vídeo, cor, som, 7'33''. Cortesia da artista.
Sala da Cidade
«La Cabeza Mató a Todos» (vídeo still), 2014
Oriana
2021–2022
Instalação vídeo multicanal. Cortesia da artista.
Mosteiro de Santa Clara-a-Nova
© Jorge das Neves

Candice Lin & P. Staff

Hormonal Fog
2016–2018
Máquina de fumo, torneira, copo de plástico, tubo, caixa de madeira, ervas secas, infusão de ervas medicinais. Cortesia dxs artistas.
Mosteiro de Santa Clara-a-Nova
© Jorge das Neves

Carlos Bunga

Descolonizar o Pensamento
2013–2021
Cartão canelado, ecrã, esculturas angolanas do Museu de Ciência da Universidade de Coimbra. Cortesia do artista.
Mosteiro de Santa Clara-a-Nova
© Jorge das Neves
Mother
2002–2022
Vídeo digital, cor, som, loop e instalação site-specific. Cortesia do artista.
Mosteiro de Santa Clara-a-Nova
© Jorge das Neves

Christian Nyampeta & Obi Okigbo

The Africans – Act 1 & The Twighlight Moment in the Wake of a Dream
— «The Africans – Act 1» (2020–2021) Christian Nyampeta Instalação de som. Cortesia do artista. — «The Twighlight Moment in the Wake of a Dream» (2019) Obi Okigbo Imagem projetada da pintura. Cortesia da artista.
Mosteiro de Santa Clara-a-Nova
© Jorge das Neves

Daniel Steegmann Mangrané

A Dream Dreaming a Dream
2020
Projeção em tempo real de vídeo de animação gerada por computador, preto e branco. Comissionada e produzida por Thyssen-Bornemisza Art Contemporary. Coleção Thyssen-Bornemisza Art Contemporary‍.
Mosteiro de Santa Clara-a-Nova
© Jorge das Neves

Diana Policarpo

Visions of Excess
2015
Amplificador, colunas, paisagem sonora e spoken word 15’25’’ Cortesia da artista
Estufa Fria – Jardim Botânico
© Jorge das Neves

Elisabetta Benassi

Io vivere vorrei addormentato entro il dolce rumore della vita [I would like to live asleep within the sweet noise of life]
2022
Lâmpadas Morse, tripés, eletroímanes, uma unidade de controle eletrónico, cabos elétricos. Cortesia da artista e Magazzino, Roma.
Mosteiro de Santa Clara-a-Nova
© Jorge das Neves

Elise Florenty & Marcel Türkowsky

Shadow-Machine
2016
Vídeo, preto e branco, som, 13'. Cortesia dos artistas.
Sala da Cidade
Zapotitland
2022
Vídeo HD, cor, som, 49’. Espanhol, alemão, japonês. Apoio de La Fondation des Artistes, Cnap & Micro Climat Studio (FIDLab award).
Mosteiro de Santa Clara-a-Nova
© Jorge das Neves

Euridice Zaituna LaKala

Trans_relations. I am the archive
2020–2022
Painéis led. Cortesia da artista.
Mosteiro de Santa Clara-a-Nova

Filipa César

Bibliotera
2022
Livros, estantes.
Círculo Sereia
© Jorge das Neves

Gabriel Chaile

The folds of his flesh stick together, firmly cast on him and immovable. Job 41:23 & Smoke comes out of his nose like a pot boiling on the fire. Job 41:20
2020
Metal, argila, carvão, latão e pigmento. Cortesia do artista.
Mosteiro de Santa Clara-a-Nova
© Jorge das Neves

Jarbas Lopes

Jesse Darling

Jessica Warboys

Joana Escoval

Julie Béna

Lastenia Canayo – Pecon Quena

Laura Huertas Millán

Laura Lamiel

Louidgi Beltrame

Lygia Pape

Maja Escher

Mané Pacheco

Marguerite Duras

Marinho de Pina

Bibliotera
2022
Livros, estantes.
Círculo Sereia
© Jorge das Neves

Marta Lança

Bibliotera
2022
Livros, estantes.
Círculo Sereia
© Jorge das Neves

Mary Beth Edelson

Meris Angioletti

Minia Biabiany

Musa paradisiaca

Nelson Pereira dos Santos

Paul Mpagi Sepuya

Ru Kim

Sarah Maldoror

Seni Awa Camara

Sónia Vaz Borges

Vivian Suter

Yoan Sorin

Obras

© Jorge das Neves
Zapotitland
Elise Florenty & Marcel Türkowsky
2022
Mosteiro de Santa Clara-a-Nova
Vídeo HD, cor, som, 49’. Espanhol, alemão, japonês. Apoio de La Fondation des Artistes, Cnap & Micro Climat Studio (FIDLab award).
Shadow-Machine
Elise Florenty & Marcel Türkowsky
2016
Sala da Cidade
Vídeo, preto e branco, som, 13'. Cortesia dos artistas.
© Jorge das Neves
Io vivere vorrei addormentato entro il dolce rumore della vita [I would like to live asleep within the sweet noise of life]
Elisabetta Benassi
2022
Mosteiro de Santa Clara-a-Nova
Lâmpadas Morse, tripés, eletroímanes, uma unidade de controle eletrónico, cabos elétricos. Cortesia da artista e Magazzino, Roma.

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