A paisagem vulcânica, pela sua forte dimensão telúrica e proximidade à pulsação e respiração da terra, é o território eleito de indagação. Esta exposição é um «diário de uma expedição», uma seleção de fotografias analógicas do arquivo biográfico inscrito no corpo de Gil Mac, um dos intérpretes de Cratera, espetáculo da CiRcoLando, que decidiu focar a pesquisa e parte do processo de criação na Ilha do Fogo, Cabo Verde. O imaginário é intemporal, imenso e poeticamente enfático, transportando-nos para o «Inferno» de John Milton. Estradas de lava e um silêncio ensurdecedor, apaixonante e fecundo.
Gil Mac confronta a massa bruta e informe resultante da ação vulcânica na Ilha do Fogo. Este caos primordial oprime geologicamente o corpo do intérprete e é sensibilizado pelo olho-espírito do fotógrafo que fixa esta imago terrae. A 2000 metros de altitude, cercado pelas ruínas da parede de um cone vulcânico que colapsou num passado distante, sentimo-nos parte da metamorfose geológica do mundo, onde o inumano está prenhe da semente das coisas. Esmagado por esta escala abismal, o performer esboça um gesto titânico de criação simbólica pré- verbal, através da elaboração solitária de um ritual inscrito no mar de lava. Desenha com materiais piroclásticos um círculo que reproduz a bordeira que rodeia a Chã das Caldeiras, vigiado pelo omnipresente Pico do Fogo. Este hemiciclo que trunca o topo da ilha é transposto para o espaço expositivo, criando uma relação de campo/ contracampo. Convergindo para o centro, a paisagem vulcânica contrasta com as evidências de ocupação humana da base do vulcão na resistência e insistência dos habitantes da Chã em fazer deste território aparentemente inóspito e ameaçador a sua casa. Mas também na interferência do sistema-mundo através da presença inusitada destes estrangeiros em modo de residência artística, nos gestos mundanos que trazem e nos seus corpos que se tornam anúncios dominados pela palavra vestida das criações de moda do autor — «o inferno vencerá» —, a inevitável sucessão de criação pela destruição, o consumo autofágico plasmado no ouroboros canino que encerra a exposição.
Gonçalo Mota
A paisagem vulcânica, pela sua forte dimensão telúrica e proximidade à pulsação e respiração da terra, é o território eleito de indagação. Esta exposição é um «diário de uma expedição», uma seleção de fotografias analógicas do arquivo biográfico inscrito no corpo de Gil Mac, um dos intérpretes de Cratera, espetáculo da CiRcoLando, que decidiu focar a pesquisa e parte do processo de criação na Ilha do Fogo, Cabo Verde. O imaginário é intemporal, imenso e poeticamente enfático, transportando-nos para o «Inferno» de John Milton. Estradas de lava e um silêncio ensurdecedor, apaixonante e fecundo.
Gil Mac confronta a massa bruta e informe resultante da ação vulcânica na Ilha do Fogo. Este caos primordial oprime geologicamente o corpo do intérprete e é sensibilizado pelo olho-espírito do fotógrafo que fixa esta imago terrae. A 2000 metros de altitude, cercado pelas ruínas da parede de um cone vulcânico que colapsou num passado distante, sentimo-nos parte da metamorfose geológica do mundo, onde o inumano está prenhe da semente das coisas. Esmagado por esta escala abismal, o performer esboça um gesto titânico de criação simbólica pré- verbal, através da elaboração solitária de um ritual inscrito no mar de lava. Desenha com materiais piroclásticos um círculo que reproduz a bordeira que rodeia a Chã das Caldeiras, vigiado pelo omnipresente Pico do Fogo. Este hemiciclo que trunca o topo da ilha é transposto para o espaço expositivo, criando uma relação de campo/ contracampo. Convergindo para o centro, a paisagem vulcânica contrasta com as evidências de ocupação humana da base do vulcão na resistência e insistência dos habitantes da Chã em fazer deste território aparentemente inóspito e ameaçador a sua casa. Mas também na interferência do sistema-mundo através da presença inusitada destes estrangeiros em modo de residência artística, nos gestos mundanos que trazem e nos seus corpos que se tornam anúncios dominados pela palavra vestida das criações de moda do autor — «o inferno vencerá» —, a inevitável sucessão de criação pela destruição, o consumo autofágico plasmado no ouroboros canino que encerra a exposição.
Gonçalo Mota
Curadoria
Jorge das Neves
Organização
CAPC – Círculo de Artes Plásticas de Coimbra
Produção
Daniel Madeira (coordenação)
Diana Santos
Assistência à produção
Ivone Antunes
Montagem
Jorge das Neves (coordenação)
Marco Graça
Texto
Gonçalo Mota
Tradução
Hugo Carriço (Estagiário FLUC)
Revisão
Carina Correia
Direção de arte
João Bicker
Joana Monteiro
Design gráfico
Alexandra Oliveira
Programa educativo
Jorge Cabrera
Impressões
T.ART