Jorge Molder começou a sua carreira de fotógrafo com uma exposição individual, em 1977, dedicada a Vilarinho das Furnas, na qual já se podia vislumbrar o pendor nostálgico que iria orientar a sua obra, sublinhado pelo uso do preto e branco e pelo ligeiro «sfumato» que raramente abandonaria.
Em 1980, realizou uma exposição em colaboração com os poetas João Miguel Fernandes Jorge e Joaquim Manuel Magalhães em que se começou a esboçar o seu interesse pela insinuação narrativa e o pendor cinematográfico da sua fotografia. O «film noir», mais precisamente pela mão de Dashiell Hammett, marca esteticamente os locais abandonados que Molder seleciona como cenários nestes primeiros trabalhos.
A adoção da série como categoria estruturante acentua esse carácter cinematográfico. Aliada ao interesse quase obsessivo pela prática do autorretrato, a série tem vindo a funcionar como o dispositivo de produção de sentido mais omnipresente no desenrolar do seu percurso fotográfico.
Em Joseph Conrad (1990) ou «The Secret Agent» (1991), encontramos um conjunto de cenários e adereços que evocam uma narrativa suspensa, como pistas numa novela policial ou num conto fantástico cujo desenrolar permanece obscuro.
O autorretrato, embora esteja presente desde tão cedo quanto 1981, só mais tarde veio a assumir o seu atual carácter. Ao ser trabalhado em séries, assume um estatuto de autorrepresentação, no qual o eu se revela e oculta através da assunção de um outro enquanto protagonista da representação.
Entre o «film noir» e o romance vitoriano, entre o agente secreto e Mr. Hyde, o outro é aquele que se libertou do corpo para abraçar plenamente a sua condição espectral, sendo que esta é a condição da fotografia ela própria. Como testemunho último dessa condição, veja-se uma série como «Nox» (Bienal de Veneza, 1999), em que a densidade do negro ameaça subsumir, por fim, as suas personagens.
Desde então, tem exposto nas maiores instituições nacionais e internacionais e tem sido alvo de estudo pelos maiores críticos de fotografia contemporânea.