arquivo e consignação_1
José Maçãs de Carvalho
2016
até 
3
July 2016
Casa das Artes
arquivo e consignação_1

arquivo e consignação_1

Exposição Coletiva

arquivo e consignação_1

Exposição Coletiva

2
April 2016
a
3
July 2016
Casa das Artes

In my mind I hold the memory of the countless times I
have visited La  Ciotat (…). I assure you I have lost count
of all the visits I have made to La Ciotat.

And, yet, I have never been there.

Abílio Hernandez, 2013

Segundo Jacques Derrida (“Mal d' Archive”)  vários são os passos para guardar um documento no arquivo. Um desses momentos é a consignação, da qual temos a imagem de listas, siglas ou cifras, que produzem uma qualquer ordem. A consignação implica, não somente, disponibilizar espaço de acomodação, mas também colocar os documentos em relação, num sistema articulado.

“Arquivo e Consignação” tenta comprovar a hipótese de as imagens ativarem novos significados na aproximação (física) a outras imagens, perdendo a sua unicidade para assim ganharem um sentido relacional e expansivo. Estamos perante o conceito de “imagem dialéctica” (Walter Benjamim) que não corporiza a continuidade entre passado e presente, mas concentra em si o movimento daquilo que foi com o agora, tornando-se o centro de um gesto de rememoração. Falamos também acerca da dualidade da imagem (Carlos Vidal), acerca da sua capacidade de remeter a um campo de significado distante de si.

A indexação por número e letras (relação puramente convencional) é a forma mais antiga e eficaz de arquivar, para a qual, no entanto, é preciso criar um outro sistema que clarifique essa inscrição. Esta aparente clarificação é, muitas vezes, ela própria críptica e difusa, para ser esclarecida pelo arconte ou pelo burocrata.

Esta nova indexação, em “Arquivo e Consignação”, oblitera o contexto, o lugar e o tempo que, habitualmente, acompanham as fotografias nos arquivos, nos álbuns e até mesmo nas pastas informáticas. Esta omissão exclui-as de uma leitura narrativa à priori e aumenta a tensão recetiva, porque diante de fotografias perguntamos sempre onde e quando.

David Santos (2001)1 referiu, a propósito da viagem como mecanismo de recolha de imagens, que a minha prática artística fazia

“…desse mesmo universo um entendimento mais lato, estabelecendo à posteriori uma reordenação dos referentes recolhidos nas viagens, alterando-lhes a correspondência de significados entre imagem e referente…”

Tem sido, aliás, uma prática recorrente no meu trabalho artístico, esta problematização do visível com o dizível pela afirmação da palavra numa relação tensa com a imagem.

Parece, por conseguinte, que estas duas problemáticas são recorrentes e substantivas: as imagens despidas de contexto, tempo e lugar, numa significação por vir; e a presença da palavra, que para além de trazer uma fricção linguística à imagem, também perturba a relação com o visível, até porque, nesta nova série de conjugações, falo da palavra como marca impressiva (Derrida), inscrita na pele da imagem.

Assinale-se o intencional desequilíbrio formal entre a imagem icónica e a imagem verbal (as palavras inscritas na fotografia têm uma reduzida dimensão), de forma a que, numa primeira instância (visual) o espetador veja a fotografia, sem a perturbação do texto, e possa, portanto, ter uma relação percetiva muito visual com as fotografias na parede, para só depois se aperceber dessa pequena mancha negra que se transforma em texto.

A palavra inscrita na imagem remete para lugares físicos instaurados na memória coletiva e leva-nos para lugares geográficos, cujo afeto individual (a perceção subjetiva) é determinante na sua expressividade.

O que nestas fotografias se faz é interromper a habitual correspondência entre imagem e palavra (especialmente se pensarmos que nos títulos da maioria das fotografias sempre consta o lugar onde ela se fez), provocando, assim, uma nova associação significacional, até porque, em cada uma destas imagens, não há elementos que obriguem a ligar a fotografia ao lugar. Será, pois, nesta opacidade da relação analógica da fotografia com o real, que surge este espaço de dissemelhança, onde a credibilidade da imagem é suspensa pela intrusão da palavra.

José Maçãs de Carvalho, Abril de 2016

1 Neste texto de 2001, "Linguagem, verdade e percepção", David Santos retoma análise de Carlos Vidal no catálogo da minha exposição "Hotline", em 1998, realizada em Macau, Hong Kong, Lisboa e posteriormente em Madrid, que, na essência, era um projeto para o espaço público.

In my mind I hold the memory of the countless times I
have visited La  Ciotat (…). I assure you I have lost count
of all the visits I have made to La Ciotat.

And, yet, I have never been there.

Abílio Hernandez, 2013

Segundo Jacques Derrida (“Mal d' Archive”)  vários são os passos para guardar um documento no arquivo. Um desses momentos é a consignação, da qual temos a imagem de listas, siglas ou cifras, que produzem uma qualquer ordem. A consignação implica, não somente, disponibilizar espaço de acomodação, mas também colocar os documentos em relação, num sistema articulado.

“Arquivo e Consignação” tenta comprovar a hipótese de as imagens ativarem novos significados na aproximação (física) a outras imagens, perdendo a sua unicidade para assim ganharem um sentido relacional e expansivo. Estamos perante o conceito de “imagem dialéctica” (Walter Benjamim) que não corporiza a continuidade entre passado e presente, mas concentra em si o movimento daquilo que foi com o agora, tornando-se o centro de um gesto de rememoração. Falamos também acerca da dualidade da imagem (Carlos Vidal), acerca da sua capacidade de remeter a um campo de significado distante de si.

A indexação por número e letras (relação puramente convencional) é a forma mais antiga e eficaz de arquivar, para a qual, no entanto, é preciso criar um outro sistema que clarifique essa inscrição. Esta aparente clarificação é, muitas vezes, ela própria críptica e difusa, para ser esclarecida pelo arconte ou pelo burocrata.

Esta nova indexação, em “Arquivo e Consignação”, oblitera o contexto, o lugar e o tempo que, habitualmente, acompanham as fotografias nos arquivos, nos álbuns e até mesmo nas pastas informáticas. Esta omissão exclui-as de uma leitura narrativa à priori e aumenta a tensão recetiva, porque diante de fotografias perguntamos sempre onde e quando.

David Santos (2001)1 referiu, a propósito da viagem como mecanismo de recolha de imagens, que a minha prática artística fazia

“…desse mesmo universo um entendimento mais lato, estabelecendo à posteriori uma reordenação dos referentes recolhidos nas viagens, alterando-lhes a correspondência de significados entre imagem e referente…”

Tem sido, aliás, uma prática recorrente no meu trabalho artístico, esta problematização do visível com o dizível pela afirmação da palavra numa relação tensa com a imagem.

Parece, por conseguinte, que estas duas problemáticas são recorrentes e substantivas: as imagens despidas de contexto, tempo e lugar, numa significação por vir; e a presença da palavra, que para além de trazer uma fricção linguística à imagem, também perturba a relação com o visível, até porque, nesta nova série de conjugações, falo da palavra como marca impressiva (Derrida), inscrita na pele da imagem.

Assinale-se o intencional desequilíbrio formal entre a imagem icónica e a imagem verbal (as palavras inscritas na fotografia têm uma reduzida dimensão), de forma a que, numa primeira instância (visual) o espetador veja a fotografia, sem a perturbação do texto, e possa, portanto, ter uma relação percetiva muito visual com as fotografias na parede, para só depois se aperceber dessa pequena mancha negra que se transforma em texto.

A palavra inscrita na imagem remete para lugares físicos instaurados na memória coletiva e leva-nos para lugares geográficos, cujo afeto individual (a perceção subjetiva) é determinante na sua expressividade.

O que nestas fotografias se faz é interromper a habitual correspondência entre imagem e palavra (especialmente se pensarmos que nos títulos da maioria das fotografias sempre consta o lugar onde ela se fez), provocando, assim, uma nova associação significacional, até porque, em cada uma destas imagens, não há elementos que obriguem a ligar a fotografia ao lugar. Será, pois, nesta opacidade da relação analógica da fotografia com o real, que surge este espaço de dissemelhança, onde a credibilidade da imagem é suspensa pela intrusão da palavra.

José Maçãs de Carvalho, Abril de 2016

1 Neste texto de 2001, "Linguagem, verdade e percepção", David Santos retoma análise de Carlos Vidal no catálogo da minha exposição "Hotline", em 1998, realizada em Macau, Hong Kong, Lisboa e posteriormente em Madrid, que, na essência, era um projeto para o espaço público.

Artistas

José Maçãs de Carvalho

Obras

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Curadoria

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Vistas da Exposição

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© Jorge das Neves

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Localização e horário

Localização

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Terça a sexta, 14h00 às 19h00 Sábado e domingo, 15h00 às 19h00

Ligação Externa

Atividades associadas

Não foram encontradas atividades associadas.

Agradecimentos

Notícias Associadas

Mais informações

Ficha técnica

Abrir ficha técnica

Organização
Círculo de Artes Plásticas de Coimbra
Câmara Municipal de Miranda do Corvo

Assistência à produção
Laurindo Marta
Mariana Abrantes
Paulo Castanheira
Pedro Sá Valentim

Montagem
Jorge das Neves
Laurindo Marta
Luís Sequeira
Paulo Castanheira

Fotografia
José Maçãs de Carvalho

Fotografias da exposição
Jorge Neves

Imagem e Som
Diogo Pereira

Secretariado
Ivone Antunes

Arquivo e Biblioteca
Cláudia Paiva

Direção de Arte
Artur Rebelo
Lizá Ramalho
João Bicker

Design Gráfico
unit-lab, por
Francisco Pires e Marisa Leiria

Projeto educativo
Jorge das Neves
Magda Henriques
Mariana Abrantes
Pedro Sá Valentim

Tradução
Hugo Carriço (Estagiário FLUC)

Apoios

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