MondEGO
Collective Exhibition
2012
até 
29
June 2012
Mosteiro de Santa Clara-a-Velha
MondEGO
19
May 2012
to
29
June 2012
Mosteiro de Santa Clara-a-Velha

Deixaram, abandonaram, sublinharam

Cronograma de um rio aspergido por uma navalha: nesta sala funciona, num “turning off and on”, o espírito workshop a que Ernesto de Sousa se referia a propósito do CAPC. Esse espírito funciona aqui como um livro de muitas folhas, algumas transparentes outras rasuradas e outras, ainda, reescritas; um livro que arrisca acrescentar coisas ao mundo sem lhes dar um significado doutrinário. A intersubjectividade, quatro artistas em diálogo, ergue-se, então, como uma pseudo-“gesamtkunstwerk”. Encontramos inesperadamente no “Realismo Capitalista” de um B-52, o sonho americano a bombardear Hanói, e na acumulação de sistemas abstractos do Manhattan commuter transit system presentificados nas serigrafias de Vostell o duelo transatlântico entre o pessimismo germânico e o “revivalismo withmanesco” (sic Thierry de Duve) que marcou a itinerância do grupo Fluxus. A indiferenciação social do artista: ser como todos os outros implica, ainda, e necessariamente, culpa e sonho. Armando Azevedo atomiza o nome próprio “Mondego” num sujeito que se encontra com o “absolutismo da realidade”. ”Ego” e “Monde” engomando fragmentos de incomensurabilidade tipográfica, exorcizando o conteúdo de um rio, virando-o ao contrário com o vai e vem de uma mota-balouço. “Hommage à Mondego d’aprés Promio”, a promenade ontológica proposta por Pedro Cabral Santo faz-se em torno das diferentes motricidades e inadequações da percepção.

A autenticidade da coisa-em-si, Coimbra vista do Mondego, é apenas o repertório de uma experiência diferida, incompleta, substituída pelos seus vários nomes. O sussurro de uma mancha florestal é apresentada por Alberto Carneiro como uma ondulação de matéria e energia.

Um feixe de forças tornando-se o transporte de uma sensibilidade, mas também a sua inércia, tornando-se a consciência que essa sensibilidade tem da sua separação em relação ao mundo das coisas vivas e das coisas inertes. Numa espécie de confronto e fractura entre aquele que faz e o mundo por si feito, Alberto Carneiro vem mostrar–nos como no processo de inadequação sensível se faz inscrever a permanente volatilidade e desteritorialização do mundo. Um feixe de forças, de linhas que atravessam o plano de continuidade que é a realidade, a escura realidade do mundo denunciando o improvável das realizações humanas. Dir-se-ia assim que entre o humano demasiado humano das cartografias da itinerância de Vostell e do Fluxus e a cesura entre o inumano e o humano propiciada pelo gesto de Alberto Carneiro, detectamos em Armando Azevedo a melhor das mediações ou passagens. O seu Mondego é a sublimação do si, do self, do ego, o seu reflexo, e, em simultâneo, a paisagem líquida do interior e da escuridão que só Carneiro poderia fazer sublinhar através de traços que denunciam, afinal, a região de sombras que está para lá da metrópole e dos seus circuitos, ou tão-só, nos espaços opacos que as linhas, sempre as linhas, esse apaixonante vestígio da sensibilidade e da civilização, deixaram, abandonaram, sublinharam.

Pedro Pousada & Luís Quintais
Maio de 2012

Deixaram, abandonaram, sublinharam

Cronograma de um rio aspergido por uma navalha: nesta sala funciona, num “turning off and on”, o espírito workshop a que Ernesto de Sousa se referia a propósito do CAPC. Esse espírito funciona aqui como um livro de muitas folhas, algumas transparentes outras rasuradas e outras, ainda, reescritas; um livro que arrisca acrescentar coisas ao mundo sem lhes dar um significado doutrinário. A intersubjectividade, quatro artistas em diálogo, ergue-se, então, como uma pseudo-“gesamtkunstwerk”. Encontramos inesperadamente no “Realismo Capitalista” de um B-52, o sonho americano a bombardear Hanói, e na acumulação de sistemas abstractos do Manhattan commuter transit system presentificados nas serigrafias de Vostell o duelo transatlântico entre o pessimismo germânico e o “revivalismo withmanesco” (sic Thierry de Duve) que marcou a itinerância do grupo Fluxus. A indiferenciação social do artista: ser como todos os outros implica, ainda, e necessariamente, culpa e sonho. Armando Azevedo atomiza o nome próprio “Mondego” num sujeito que se encontra com o “absolutismo da realidade”. ”Ego” e “Monde” engomando fragmentos de incomensurabilidade tipográfica, exorcizando o conteúdo de um rio, virando-o ao contrário com o vai e vem de uma mota-balouço. “Hommage à Mondego d’aprés Promio”, a promenade ontológica proposta por Pedro Cabral Santo faz-se em torno das diferentes motricidades e inadequações da percepção.

A autenticidade da coisa-em-si, Coimbra vista do Mondego, é apenas o repertório de uma experiência diferida, incompleta, substituída pelos seus vários nomes. O sussurro de uma mancha florestal é apresentada por Alberto Carneiro como uma ondulação de matéria e energia.

Um feixe de forças tornando-se o transporte de uma sensibilidade, mas também a sua inércia, tornando-se a consciência que essa sensibilidade tem da sua separação em relação ao mundo das coisas vivas e das coisas inertes. Numa espécie de confronto e fractura entre aquele que faz e o mundo por si feito, Alberto Carneiro vem mostrar–nos como no processo de inadequação sensível se faz inscrever a permanente volatilidade e desteritorialização do mundo. Um feixe de forças, de linhas que atravessam o plano de continuidade que é a realidade, a escura realidade do mundo denunciando o improvável das realizações humanas. Dir-se-ia assim que entre o humano demasiado humano das cartografias da itinerância de Vostell e do Fluxus e a cesura entre o inumano e o humano propiciada pelo gesto de Alberto Carneiro, detectamos em Armando Azevedo a melhor das mediações ou passagens. O seu Mondego é a sublimação do si, do self, do ego, o seu reflexo, e, em simultâneo, a paisagem líquida do interior e da escuridão que só Carneiro poderia fazer sublinhar através de traços que denunciam, afinal, a região de sombras que está para lá da metrópole e dos seus circuitos, ou tão-só, nos espaços opacos que as linhas, sempre as linhas, esse apaixonante vestígio da sensibilidade e da civilização, deixaram, abandonaram, sublinharam.

Pedro Pousada & Luís Quintais
Maio de 2012

Artists

Alberto Carneiro

Armando Azevedo

Pedro Cabral Santo

Wolf Vostell

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Tuesday to Saturday 2 p.m. to 6 p.m.

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Pormenor de desenho da série "Os Caminhos da Floresta" de Alberto Carneiro

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Organização
Círculo de Artes Plásticas de Coimbra

Montagem
Círculo de Artes Plásticas

Secretariado
Ivone Antunes

Texto
Pedro Pousada
Luís Quintais

Direção de Arte
Artur Rebelo
Lizá Ramalho
João Bicker

Design Gráfico
José Maria Cunha

Support

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