Este Lugar Lembra-te Algum Sítio?
Collective Exhibition
2017
até 
27
January 2017
Círculo Sereia
Este Lugar Lembra-te Algum Sítio?
7
January 2017
to
27
January 2017
Círculo Sereia

«O espaço é, em essência, aquilo para o qual se criou lugar». Esta afirmação de Martin Heidegger é aqui entendida como análoga ao Lugar — que queremos realçar/questionar. Um lugar disponível e de acesso: dotado de identidade, referente e sentido. Um lugar que se torna existente pela presença do indivíduo e do significado que ele lhe atribui, ganhando assim identidade, relação e historicidade.

Um lugar no qual se imprime um grau de afetividade resultante de vivências que potenciam e permitem criar uma marca indelével, memorável e histórica, de reconhecimento e de valor. Um lugar — ou sítio? — cujo significado é oferecido por quem o pratica, habita, usa. Contendo propriedades existenciais — sociológicas, antropológicas, relacionais e participativas — e assumindo uma noção de experiência pela vivência e alteridade que a sociedade, independentemente do local geográfico, produz de forma coletiva, relacional, interdependente, partilhada e permutada.

O lugar está onde o encontramos, ou melhor, onde o ativamos, como nos disse Anne Cauquelin. E é também ela que nos fala em lugar incorpóreo, que ganha corpo com a nossa presença e ativação. Então, de incorpóreo que era, ele torna-se corpo, precisamente pelo rendez-vous, e assim o vazio é preenchido por permitir acesso: encontro.

Desta forma, o espaço-vazio torna-se lugar, pois perde a sua ilimitação.1 É desta mistura que poderemos pensar/situar o espaço-lugar em sítio. A autora traz ao pensamento questões em torno do espaço-lugar substituindo-os pelo «sítio»; um sítio específico. Visto e entendido desta maneira, o Lugar dá lugar ao Sítio no momento em que o homem, o habitante, o indivíduo lhe concede existência e lhe implementa uma ação, uma marca — o situa. «O lugar então, o sítio, não é finito, é um devir», afirma Anne Cauquelin.

Tratar-se-á, então, de encarar o sítio (enquanto mundo) e não mais o lugar (enquanto espaço). Um sítio nem local nem central: incorpóreo. Insubstancial. Que resulte de uma ação e receção. Tal como uma obra de arte é feita para alguém a rececionar ou relacionar; experienciar. Pensemos assim: o CAPC tornou-se num lugar (não que não o seja em outros momentos), motivado pelas obras aqui expostas que permitiram o acesso, o uso e a presença do público. Servimo-nos deste lugar e com isso situamo-lo.

O estado da arte e a arquitetura tendem a cruzar-se e a coabitar, a fundir-se — nem sempre numa relação fácil —, uma vez que ambas as disciplinas têm vindo a questionar-se (desde, pelo menos, o século passado) de forma mútua, possibilitando assim a criação de campos híbridos, desde logo pelo interesse que artistas e arquitetos partilham pelo espaço, lugar, sítio real, precisamente aquele onde a presença se faz sentir. Do Corpo. Do Homem. Da Vida. Neste contexto, a seleção destes artistas, e respetivas obras, aponta para estas questões e indica caminhos e/ou possibilidades distintas na forma como estes termos se relacionam ou diferenciam; se aproximam ou afastam; se questionam ou afirmam — nas mais variadas formas, processos criativos, construtivos e investigacionais — de diferentes práticas artísticas, que passam pela escultura (Ana Bezelga, construída para este projeto; Carlos Nogueira; Diogo Pimentão; José Bechara; Nuno Sousa Vieira), vídeo (Carlos Bunga e Fernanda Fragateiro), objeto (Fernanda Fragateiro) e fotografia (Edgar Martins e Inês d’Orey). E ainda, por uma intervenção concebida por Nuno Sousa Vieira para um espaço exterior e adjacente ao CAAA (Centro Para os Assuntos da Arte e Arquitectura — onde este projeto itinerante se iniciou), que, não tendo sido feita especificamente para o CAPC, irá ocupar-lhe aqui um espaço exterior, tal qual a essência da obra exige.

Se teórica e tendencialmente o artista contemporâneo tende a conceber e a criar obras tridimensionais e trabalha/investiga in situ, analisando as condições básicas do lugar (contexto/ambiente, utilizador/habitante/recetor, escala), e se a obra pretende dirigir-se às pessoas que frequentam esse local, então o artista deve ter um alargado leque de processos e preocupações que podem abranger disciplinas como a Arquitetura, a Sociologia ou a Antropologia, tendo, assim, um papel cada vez mais transdisciplinar e multifuncional: aproximando a sua atenção ao processo investigativo de construção e à experiência/vivência do espectador.

É desta forma que o artista (e o arquiteto) deverá abordar a sua interferência no lugar que será transformado em sítio. Um espaço-real-geográfico-específico. E mais do que entender a paisagem urbanística ou periférica e o seu enquadramento, terá que ter em conta quem lá viveu, vive e viverá.

Tal como a tensão e o jogo existente entre a vida e a arte, a arte e a arquitetura e o estético — seja ele o visual ou o relacional —, quisemos aqui lançar um outro (jogo) entre o lugar e o sítio. Estes artistas, cada um à sua maneira, oferecem um diálogo interessante com qualquer um dos jogos.

Os limites, ou as fronteiras, entre a arte e a arquitetura começaram a desfazer-se consoante ambas se interessaram na relação entre a arte e o homem e o contexto, ambiente e natureza do lugar. Do sítio.

Miguel Sousa Ribeiro

1 Anne Cauquelin (2005), «Sítio, Lugar e Mundo», in Gabriela Vaz Pinheiro (org.), Curadoria do Local, Torres Vedras, Transforma AC.

«O espaço é, em essência, aquilo para o qual se criou lugar». Esta afirmação de Martin Heidegger é aqui entendida como análoga ao Lugar — que queremos realçar/questionar. Um lugar disponível e de acesso: dotado de identidade, referente e sentido. Um lugar que se torna existente pela presença do indivíduo e do significado que ele lhe atribui, ganhando assim identidade, relação e historicidade.

Um lugar no qual se imprime um grau de afetividade resultante de vivências que potenciam e permitem criar uma marca indelével, memorável e histórica, de reconhecimento e de valor. Um lugar — ou sítio? — cujo significado é oferecido por quem o pratica, habita, usa. Contendo propriedades existenciais — sociológicas, antropológicas, relacionais e participativas — e assumindo uma noção de experiência pela vivência e alteridade que a sociedade, independentemente do local geográfico, produz de forma coletiva, relacional, interdependente, partilhada e permutada.

O lugar está onde o encontramos, ou melhor, onde o ativamos, como nos disse Anne Cauquelin. E é também ela que nos fala em lugar incorpóreo, que ganha corpo com a nossa presença e ativação. Então, de incorpóreo que era, ele torna-se corpo, precisamente pelo rendez-vous, e assim o vazio é preenchido por permitir acesso: encontro.

Desta forma, o espaço-vazio torna-se lugar, pois perde a sua ilimitação.1 É desta mistura que poderemos pensar/situar o espaço-lugar em sítio. A autora traz ao pensamento questões em torno do espaço-lugar substituindo-os pelo «sítio»; um sítio específico. Visto e entendido desta maneira, o Lugar dá lugar ao Sítio no momento em que o homem, o habitante, o indivíduo lhe concede existência e lhe implementa uma ação, uma marca — o situa. «O lugar então, o sítio, não é finito, é um devir», afirma Anne Cauquelin.

Tratar-se-á, então, de encarar o sítio (enquanto mundo) e não mais o lugar (enquanto espaço). Um sítio nem local nem central: incorpóreo. Insubstancial. Que resulte de uma ação e receção. Tal como uma obra de arte é feita para alguém a rececionar ou relacionar; experienciar. Pensemos assim: o CAPC tornou-se num lugar (não que não o seja em outros momentos), motivado pelas obras aqui expostas que permitiram o acesso, o uso e a presença do público. Servimo-nos deste lugar e com isso situamo-lo.

O estado da arte e a arquitetura tendem a cruzar-se e a coabitar, a fundir-se — nem sempre numa relação fácil —, uma vez que ambas as disciplinas têm vindo a questionar-se (desde, pelo menos, o século passado) de forma mútua, possibilitando assim a criação de campos híbridos, desde logo pelo interesse que artistas e arquitetos partilham pelo espaço, lugar, sítio real, precisamente aquele onde a presença se faz sentir. Do Corpo. Do Homem. Da Vida. Neste contexto, a seleção destes artistas, e respetivas obras, aponta para estas questões e indica caminhos e/ou possibilidades distintas na forma como estes termos se relacionam ou diferenciam; se aproximam ou afastam; se questionam ou afirmam — nas mais variadas formas, processos criativos, construtivos e investigacionais — de diferentes práticas artísticas, que passam pela escultura (Ana Bezelga, construída para este projeto; Carlos Nogueira; Diogo Pimentão; José Bechara; Nuno Sousa Vieira), vídeo (Carlos Bunga e Fernanda Fragateiro), objeto (Fernanda Fragateiro) e fotografia (Edgar Martins e Inês d’Orey). E ainda, por uma intervenção concebida por Nuno Sousa Vieira para um espaço exterior e adjacente ao CAAA (Centro Para os Assuntos da Arte e Arquitectura — onde este projeto itinerante se iniciou), que, não tendo sido feita especificamente para o CAPC, irá ocupar-lhe aqui um espaço exterior, tal qual a essência da obra exige.

Se teórica e tendencialmente o artista contemporâneo tende a conceber e a criar obras tridimensionais e trabalha/investiga in situ, analisando as condições básicas do lugar (contexto/ambiente, utilizador/habitante/recetor, escala), e se a obra pretende dirigir-se às pessoas que frequentam esse local, então o artista deve ter um alargado leque de processos e preocupações que podem abranger disciplinas como a Arquitetura, a Sociologia ou a Antropologia, tendo, assim, um papel cada vez mais transdisciplinar e multifuncional: aproximando a sua atenção ao processo investigativo de construção e à experiência/vivência do espectador.

É desta forma que o artista (e o arquiteto) deverá abordar a sua interferência no lugar que será transformado em sítio. Um espaço-real-geográfico-específico. E mais do que entender a paisagem urbanística ou periférica e o seu enquadramento, terá que ter em conta quem lá viveu, vive e viverá.

Tal como a tensão e o jogo existente entre a vida e a arte, a arte e a arquitetura e o estético — seja ele o visual ou o relacional —, quisemos aqui lançar um outro (jogo) entre o lugar e o sítio. Estes artistas, cada um à sua maneira, oferecem um diálogo interessante com qualquer um dos jogos.

Os limites, ou as fronteiras, entre a arte e a arquitetura começaram a desfazer-se consoante ambas se interessaram na relação entre a arte e o homem e o contexto, ambiente e natureza do lugar. Do sítio.

Miguel Sousa Ribeiro

1 Anne Cauquelin (2005), «Sítio, Lugar e Mundo», in Gabriela Vaz Pinheiro (org.), Curadoria do Local, Torres Vedras, Transforma AC.

Artists

Ana Bezelga

Carlos Bunga

Descolonizar o Pensamento
2013–2021
Corrugated cardboard, canvas, Angolan sculptures from the Science Museum of the University of Coimbra. Courtesy of the artist.
Monastery of Santa Clara-a-Nova
© Jorge das Neves
Mother
2002–2022
Digital video, color, sound, loop and site-specific installation. Courtesy of the artist.
Monastery of Santa Clara-a-Nova
© Jorge das Neves

Carlos Nogueira

Diogo Pimentão

Edgar Martins

Fernanda Fragateiro

Inês D’Orey

José Bechara

Nuno Sousa Vieira

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Location and schedule

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Localização

Tuesday to Saturday 2 p.m. to 6 p.m.

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Acknowledgements

Andrea Ray Astrid Suzano Carlos Carvalho Carolina Jegundo Cristina Guerra Cynthia González Delfim Sardo Elba Benítez Gregoria Prior Hélder Sampaio Igor Gonçalves Igor Santos Isabel Bezelga Isildo Calças James Steele João Silvério Jorge Viegas José Mário Brandão Lúcia Conceição Maria Luís Neiva Miguel Domingues Noémia Costa Saraiva NSF Laser Nuno Gregório Ricardo Bastos Areias Serração Monteiro e Amador Lda. Susana Rosmaninho

Notícias Associadas

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Technical sheet

Open technical sheet

Organização
Círculo de Artes Plásticas de Coimbra

Produção
Pedro Sá Valentim

Assistência à produção
Jorge das Neves
Ivone Antunes
Karen Bruder

Montagem
Jorge das Neves

Fotografia
Jorge das Neves

Texto
Miguel Sousa Ribeiro

Revisão
Carina Correia

Secretariado
Ivone Antunes

Arquivo e Biblioteca
Cláudia Paiva

Design Gráfico
Joana Monteiro

Projeto educativo
Jorge das Neves
Pedro Sá Valentim
Valdemar Santos

Cortesias
Carlos Bunga (Galería Elba Benítez)
Carlos Nogueira (3+1 Arte Contemporânea e Colecção Delfim Sardo)
Diogo Pimentão e Edgar Martins (Cristina Guerra Contemporary Art)
José Bechara (Galeria Carlos Carvalho Arte Contemporânea)
Nuno Sousa Vieira (Galeria Graça Brandão)

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