Square Feet
António Olaio
2012
até 
9
June 2012
Círculo Sede
Square Feet

Square Feet

Collective Exhibition

Square Feet

Exposição Coletiva

5
May 2012
to
9
June 2012
Círculo Sede

A Casa Desfocada

O corpo da casa, desta casa, sabe que outros  pensaram e fizeram as coisas como nós. Caíram  e levantaram-se, foram abrindo portas, erguendo  barreiras nas decisões que tomavam ou em que hesitavam, tropeçando nos silêncios que escondem as palavras, reacendendo-se, por vezes  com as sobras, com o colateral da realidade que viveram, tornando-se estranhos, disjuntos a si  próprios com gestos agora incorrigíveis, saltando  por cima sem o saberem da terra firme do seu  presente e de cada vez que o faziam inventando uma espécie de “história da realidade alternativa” para o verdadeiro habitante, a verdadeira textura  das suas paredes: “uma coisa simples mas difícil  de fazer”.

O que nos surge nesta exposição é o encontro entre duas contingências que não são partes contrárias mas necessárias, a dessa casa-corpo já constituída como significação social, e a de uma casa-ideia que desloca o foco da nossa  atenção, tornando a presença da casa, mas uma presença metabólica, dissonante, incompleta, isto é a sobredeterminação da sua interioridade, como um tema audível e intrínseco ao projecto artístico de António Olaio.

A casa torna-se assim energia que se movimenta dentro das pinturas e dos vídeos que António Olaio nos presentifica, ela própria torna-se site-specific (o significante  hospedando-se num significado intramuros e de portas batentes). Repetir para tornar diferente constitui uma tarefa artística incontornável; serve, basicamente, para resgatar os objectos do vazio de sentido em que vivem de modo a que eles, já não formas mas cinética pura, façam sair dos eixos o que os rodeia. É esta a integridade  poética do projecto que, aqui, neste corpo que  se tornou casa que se tornou ideia, António Olaio nos propõe.

As imagens não podem ser espelhos, não podem ser o jogo especular de quem se vê duplamente como princípio e horizonte, mas recipientes translúcidos onde vida emocional (o ser biológico) e estilização (o ser mecânico) se distorcem mutuamente como mementos mori de uma consciência criativa. Sim, mortalidade  e desordem posicionam-se aqui como princípios activos: na décalage do soalho ligando o espaço  real, de uso quotidiano, da casa aos interstícios de  um espaço sem saída, um espaço condicional feito  a partir da ideia de biombo (como o sujeito quando  se torna um inquilino de si próprio), na capa negra, autotélica que se torna um avatar inesperado desabrigando-se do corpo em que se suspende, no ponto vélico em que os pés filmados e o “convés” da casa se tornam a mesma história  tensional (como num conto de Júlio Cortazar),  esses pés hereditários que vão irrompendo pelas  salas como testemunhos expectantes de que a  inocência cresce, viaja e cessa de existir e que  é essa incisão, o que já lá não está, o que deixou de ser (vivido e sentido), é o seu vazio que nos perturba. O vídeo dos pés desenhando o piso que  os desenha, a pintura recortando a substância, subjugando o contorno da figura a uma dança de fissuras, de impressões estranhas, como que  nos dizem que a realidade pode também ser uma  amálgama cada vez mais comprimida e violenta de “inclusões disjuntivas”.

Pedro Pousada
Maio de 2010

A Casa Desfocada

O corpo da casa, desta casa, sabe que outros  pensaram e fizeram as coisas como nós. Caíram  e levantaram-se, foram abrindo portas, erguendo  barreiras nas decisões que tomavam ou em que hesitavam, tropeçando nos silêncios que escondem as palavras, reacendendo-se, por vezes  com as sobras, com o colateral da realidade que viveram, tornando-se estranhos, disjuntos a si  próprios com gestos agora incorrigíveis, saltando  por cima sem o saberem da terra firme do seu  presente e de cada vez que o faziam inventando uma espécie de “história da realidade alternativa” para o verdadeiro habitante, a verdadeira textura  das suas paredes: “uma coisa simples mas difícil  de fazer”.

O que nos surge nesta exposição é o encontro entre duas contingências que não são partes contrárias mas necessárias, a dessa casa-corpo já constituída como significação social, e a de uma casa-ideia que desloca o foco da nossa  atenção, tornando a presença da casa, mas uma presença metabólica, dissonante, incompleta, isto é a sobredeterminação da sua interioridade, como um tema audível e intrínseco ao projecto artístico de António Olaio.

A casa torna-se assim energia que se movimenta dentro das pinturas e dos vídeos que António Olaio nos presentifica, ela própria torna-se site-specific (o significante  hospedando-se num significado intramuros e de portas batentes). Repetir para tornar diferente constitui uma tarefa artística incontornável; serve, basicamente, para resgatar os objectos do vazio de sentido em que vivem de modo a que eles, já não formas mas cinética pura, façam sair dos eixos o que os rodeia. É esta a integridade  poética do projecto que, aqui, neste corpo que  se tornou casa que se tornou ideia, António Olaio nos propõe.

As imagens não podem ser espelhos, não podem ser o jogo especular de quem se vê duplamente como princípio e horizonte, mas recipientes translúcidos onde vida emocional (o ser biológico) e estilização (o ser mecânico) se distorcem mutuamente como mementos mori de uma consciência criativa. Sim, mortalidade  e desordem posicionam-se aqui como princípios activos: na décalage do soalho ligando o espaço  real, de uso quotidiano, da casa aos interstícios de  um espaço sem saída, um espaço condicional feito  a partir da ideia de biombo (como o sujeito quando  se torna um inquilino de si próprio), na capa negra, autotélica que se torna um avatar inesperado desabrigando-se do corpo em que se suspende, no ponto vélico em que os pés filmados e o “convés” da casa se tornam a mesma história  tensional (como num conto de Júlio Cortazar),  esses pés hereditários que vão irrompendo pelas  salas como testemunhos expectantes de que a  inocência cresce, viaja e cessa de existir e que  é essa incisão, o que já lá não está, o que deixou de ser (vivido e sentido), é o seu vazio que nos perturba. O vídeo dos pés desenhando o piso que  os desenha, a pintura recortando a substância, subjugando o contorno da figura a uma dança de fissuras, de impressões estranhas, como que  nos dizem que a realidade pode também ser uma  amálgama cada vez mais comprimida e violenta de “inclusões disjuntivas”.

Pedro Pousada
Maio de 2010

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António Olaio

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Tuesday to Saturday 2 p.m. to 6 p.m.

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Exposição realizada graças ao apoio da Fundação Calouste Gulbenkian.

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Organização
Círculo de Artes Plásticas de Coimbra

Montagem
Círculo de Artes Plásticas

Círculo do Verso
António Olaio

Secretariado
Ivone Antunes

Texto
Pedro Pousada

Direção de Arte
Artur Rebelo
Lizá Ramalho
João Bicker

Design Gráfico
José Maria Cunha

Support

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