O longo título para esta exposição de António Melo evidencia, desde logo, a relação particular que este artista estabelece com o tempo. Uma pintura lenta na sua execução, deliciosamente anacrónica, porque sempre fora de tempo mas, por isso mesmo, provocadora na forma como interpela a nossa relação com a contemporaneidade.
Nesta exposição para o Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, António Melo apresenta-nos pintura, desenhos e vídeo. E aqui o vídeo toma o lugar da performance, ao ponto se ser a própria performance. E o autor está ali explicitamente presente, como se estivesse mesmo.
Assumindo a possibilidade do artista prestidigitador, António Melo deixa-nos sobretudo uma atmosfera melancólica como Buster Keaton, num imaginário simultaneamente maravilhoso e decetivo.
“Imagens idealizadas a vapor” como tudo na arte, nesta relação orgânica com as coisas, nestes mecanismos que prolongam a mente e o corpo como uma respiração.
O conforto e, mesmo, a familiaridade com que nos relacionamos com a sua obra, levam a crer que isto existe mesmo, que a sua perceção passa mais pelo reconhecimento que pela estranheza.
E é, assim, amavelmente, que a sua pintura apela ao prazer do fantástico, desconcertante e anacrónica, mas de um anacronismo absoluto, o que a aproxima da experiência estética simbolista.
António Melo dilui na paisagem o que é construção arquitetónica, artifício. E confessa que não é propriamente a fantasia que o motiva, acredita mesmo que um dia as paisagens serão mais ou menos assim.
Acredita que a Natureza só sobreviverá pelo artifício, o que me parece que talvez seja o mesmo que dizer que ela não sobreviverá de todo. O que não é, para o António Melo, propriamente uma coisa má, até porque sempre considerou mais interessantes as representações da Natureza do que a própria Natureza. Talvez o futuro possa ser uma espécie de paisagem Disney, mas melhor.
Nas suas telas, as cidades engolidas pela vegetação, pelos musgos, pelos fungos, talvez não sejam uma visão catastrófica do futuro mas uma espécie de construção à semelhança das ruínas inventadas pelos românticos, para assim adoçar as descontinuidades entre o natural e o construído.
Neste “compêndio incompleto de retórica e performance”, a retórica é a das imagens, ou as imagens a tomar o lugar da retórica. Mas retórica “e performance”. Talvez sobretudo performance. Na velha questão entre forma e fundo na pintura, a performance de uma Gioconda que se camufla na paisagem.
António Olaio
Abril 2013
O longo título para esta exposição de António Melo evidencia, desde logo, a relação particular que este artista estabelece com o tempo. Uma pintura lenta na sua execução, deliciosamente anacrónica, porque sempre fora de tempo mas, por isso mesmo, provocadora na forma como interpela a nossa relação com a contemporaneidade.
Nesta exposição para o Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, António Melo apresenta-nos pintura, desenhos e vídeo. E aqui o vídeo toma o lugar da performance, ao ponto se ser a própria performance. E o autor está ali explicitamente presente, como se estivesse mesmo.
Assumindo a possibilidade do artista prestidigitador, António Melo deixa-nos sobretudo uma atmosfera melancólica como Buster Keaton, num imaginário simultaneamente maravilhoso e decetivo.
“Imagens idealizadas a vapor” como tudo na arte, nesta relação orgânica com as coisas, nestes mecanismos que prolongam a mente e o corpo como uma respiração.
O conforto e, mesmo, a familiaridade com que nos relacionamos com a sua obra, levam a crer que isto existe mesmo, que a sua perceção passa mais pelo reconhecimento que pela estranheza.
E é, assim, amavelmente, que a sua pintura apela ao prazer do fantástico, desconcertante e anacrónica, mas de um anacronismo absoluto, o que a aproxima da experiência estética simbolista.
António Melo dilui na paisagem o que é construção arquitetónica, artifício. E confessa que não é propriamente a fantasia que o motiva, acredita mesmo que um dia as paisagens serão mais ou menos assim.
Acredita que a Natureza só sobreviverá pelo artifício, o que me parece que talvez seja o mesmo que dizer que ela não sobreviverá de todo. O que não é, para o António Melo, propriamente uma coisa má, até porque sempre considerou mais interessantes as representações da Natureza do que a própria Natureza. Talvez o futuro possa ser uma espécie de paisagem Disney, mas melhor.
Nas suas telas, as cidades engolidas pela vegetação, pelos musgos, pelos fungos, talvez não sejam uma visão catastrófica do futuro mas uma espécie de construção à semelhança das ruínas inventadas pelos românticos, para assim adoçar as descontinuidades entre o natural e o construído.
Neste “compêndio incompleto de retórica e performance”, a retórica é a das imagens, ou as imagens a tomar o lugar da retórica. Mas retórica “e performance”. Talvez sobretudo performance. Na velha questão entre forma e fundo na pintura, a performance de uma Gioconda que se camufla na paisagem.
António Olaio
Abril 2013
Organização
Círculo de Artes Plásticas de Coimbra
Montagem
Círculo de Artes Plásticas
Secretariado
Ivone Antunes
Texto
António Olaio
Direção de Arte
Artur Rebelo
Lizá Ramalho
João Bicker
Design Gráfico
José Maria Cunha